Numa altura em que violentos incêndios continuam a devastar as ilhas gregas de Rodes e Corfu, obrigando a retirar mais de 19 mil pessoas da região ameaçada pelas chamas, permanecem os efeitos da onda de calor no Mediterrâneo e outras zonas da Europa, e ficam à vista os resultados do aquecimento global e das alterações climáticas.
Com os termómetros a atingirem recordes consecutivos, de dia para dia, em várias cidades italianas, o calor excessivo vai também sufocando a Turquia, a Península Ibérica, e progressivamente também o centro da Europa. Da mesma forma, com a subida das temperaturas, aumenta igualmente o risco de incêndios. E quais as áreas mais propensas a sofrer com fogos florestais? E como é calculado esse risco?
O Índice Meteorológico de Incêndio (FWI) é um instrumento que usa um conjunto de dados meteorológicos para prever que áreas do mundo são mais propensas à ocorrência da incêndios, considerando temperatura, humidade relativa, velocidade dos ventos, precipitação, condições de seca, disponibilidade de material combustível, características da vegetação e topografia regional.
O índice aponta a intensidade do fogo, combinada com a taxa de propagação do fogo e com a quantidade de combustível consumido. Quanto mais alto o FWI, maior a probabilidade de as condições climáticas darem origem a um incêndio florestal.
“Este índice de perigo de incêndio rural integra seis índices que quantificam os efeitos da humidade do combustível e do vento no comportamento do fogo. O aumento de cada um destes componentes corresponde a um aumento de perigo de incêndio. As classes de perigo de incêndio são finalmente definidas para uma determinada região, pela aplicação de uma abordagem estatística que permite calibrar o sistema FWI utilizando o número registado de fogos ativos e de pixels de fogo num determinado período de tempo”, explica o IPMA.
Um índice inferior a 5,2 é considerado “muito baixo perigo”, “baixo perigo” entre 5,2 e 11,2, “perigo moderado” entre 11,2 e 21,3, “perigo alto” entre 21,3 e 38, “perigo muito alto” entre 38 e 50, e perigo extremo quando FWI é superior a 50 pontos.
Esta ferramenta, que pode consultar aqui, é administrada pelo Copernicus, o serviços de previsão meteorológica da UE, que integra o programa espacial europeu, e usa dados recolhidos por vários sistemas de diversas agências da UE.
O modelo permite verificar as previsões de quais os locais que vão ter maior risco de incêndio em quatro períodos diferentes, tendo em conta o clima: o atual, com dados de 1981 até 2005, o de futuro próximo, entre 2021 e 2040, o de metade do século, de 2041 a 2060, e o do final do século, entre 2079 e 2098.
As previsões feitas pela ferramenta podem também ser ajustadas mediante a aplicação, em cada uma das regiões, de políticas ambientais “”ambiciosas, moderadamente ambiciosas ou pouco ambiciosas”.
De momento, as zonas na Europa com maior risco de incêndio (vermelho mais escuro), são Turquia, Grécia e Itália. Na região de Izmir o risco é extremo, e no resto do país de alto a muito alto.
Em risco muito alto de incêndio estão também as ilhas gregas, com Rodes a ter o FWI de 47.
Sicília, Sardenha ou o sul de Espanha também contam com um FWI muito alto, bem como Portugal, mas na faixa inferior. Apenas a região do Baixo Alentejo tem um índice superior a 30 (32).
Mas olhando às previsões, e especialmente às que incluem a aplicação de políticas ambientais pouco ambiciosas, verifica-se que a situação de aumento do risco de incêndio alastra-se.

Até final do século, o Alto Alentejo passará a se ruma zona de risco extremo permanente de incêndio, e na Península Ibérica só a zona de Ciudad Real terá a mesma classificação.
A zona estaria com ICW mais alto do que a Sardenha, Sicília, grande parte de Itália e ao mesmo nível do que as partes da Grácia que agora ardem, bem como de Izmir.
Apenas o noroeste de Portugal, neste cenário futuro, teria ‘apenas’ “risco alto de incêndios”: todo o resto do País teria “risco muito alto” a “risco extremo”.
A urgência da tomada de medidas fica ainda mais evidente se olharmos ao mesmo mapa, mas com políticas ambientais ambiciosas: a situação é marginalmente melhor, e o nosso País, por exemplo, já não ficaria ‘engolido’ pela cor vermelho-escuro.














